A falta de privacidade me incomoda
Compartilhamos tudo, ou melhor, eu compartilho tudo. Minha vida é um livro aberto com ele, mesmo porque não tenho saída se não for. Com um mês juntos, eu só me lembro de uma tarde ensolarada, nós dois deitados na minha cama perto da janela, passando alguns dos stories no Instagram rapidamente para ver as últimas fotos do barzinho que havíamos do no dia anterior. Você pediu para ver as fotos no meu celular Instagram, as fotos que havíamos tirado juntos com nossos amigos e a partir daí começou a ver mais algumas fotos de dias passados, fazendo uma brincadeira ou outra sobre as poses e caretas.
Dias depois, pedindo para tirar algumas fotos minhas em meu celular, pediu a senha para desbloqueá-lo. Hesitei por um momento, sabia que aquilo tinha relação direta somente com a minha intimidade, mas afinal eu não tinha nada para esconder. Ele era a pessoa que eu escolhi para a minha vida, por que não ceder o acesso a ele? Ele esperou mais alguns minutos por minha resposta, ele conseguia ver a dúvida no meu olhar quando lançou a pergunta “Você não quer que eu veja seu celular por quê?”. Não neguei em passar, não tinha nada lá que ele não pudesse ver.
O acesso ao meu celular tornou-se constante. Vira e mexe ele acessava minhas últimas fotos, entrava nas minhas redes sociais para procurar uma pessoa ou outra falando que o celular dele estava sem bateria, via algumas curtidas que foram dadas por mim. Aquele incomodo do começo por ele acessar meu celular foi tornando-se uma rotina, fui acostumando-me a compartilhar tudo com ele, a ter ele sempre vendo o que eu estava fazendo em meus dispositivos móveis.
Passei a conversar menos com minhas amigas. Eu sabia que ele veria todas as conversas e eu não queria que ele soubesse de alguns segredos meus, mesmo que referentes ao passado, eu sei que ele incomodaria se soubesse de alguns momentos, algumas pessoas, algumas situações… Eu preferia controlar o que eu falava, com medo que ele pudesse ver algo que não gostaria, que não aprovaria.
Ele passou a pegar meu celular sempre que eu não estava. Quando ia ao banheiro, tomar banho, me arrumar para sairmos. Sempre que eu voltava, ele tentava disfarçar e colocava meu celular de lado, mas eu sabia que ele estaria mexendo em todo o momento que eu estaria fora. Até mesmo quando eu dormia, acordava a noite com a luz do dispositivo móvel acessa, que rapidamente apagava-se quando eu fazia qualquer movimento.
A falta de privacidade me incomoda. Inicialmente, parecia algo normal, corriqueiro. Mas eu não tinha qualquer liberdade em falar com as pessoas pelo meu próprio celular. Qualquer frase que ele pudesse interpretar errado, seria um motivo para julgamentos e brigas. Qualquer curtida de um homem tornava-se um motivo para discussão de onde eu o conhecia e porque ele estaria me seguindo nas redes sociais. Eu não tinha privacidade, mas tinha amor, era o que me motivava a continuar sem conseguir reclamar.
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