Eu não posso estar bem se ele não está bem
A minha felicidade depende totalmente da dele. Não deveria ser dessa forma, não é a coisa certa a se pensar, mas eu somente posso expressar alegria quando ele também está na mesma situação. Caso contrário, eu serei julgada como insensível, como a companheira que não entende o lado de seu namorado e não é parceira o suficiente para estar junto em um momento ruim. Caso contrário, sofrerei com os seus joguinhos emocionais.
Eu tenho o peso do mundo diretamente nas minhas costas quando algo ruim acontece. Eu sou a pessoa que leva a carga dos dois lados. Muitas vezes, ele chega a me culpar por coisas que eu não tenho qualquer relação ou envolvimento, simplesmente por afetá-lo e ele tentar repassar a má sensação para mim, livrando-se daquele mal-estar e depositando-o diretamente em mim. Ele joga as suas tristezas em cima de mim como se eu fosse a causadora delas.
“Com você pode estar feliz se eu estou tão mal?”. Ouvi isso repetidas vezes, em repetidas situações. Brigas com familiares, desentendimentos com seus amigos, broncas que foram tomadas no trabalho. Ele sempre encontra uma forma de voltar tudo isso contra mim. Se ele briga com sua mãe, é porque eu não quis comparecer no tal especial almoço de domingo porque tinha que estudar para a prova na faculdade. Se ele discute com seu melhor amigo, é porque pedi para ele me acompanhar ao hospital por uma gripe ao invés de passar o dia na casa dele para jogarem videogame ou assistirem futebol. Se ele recebe uma advertência no trabalho é culpa minha por ter ligado para desejar um bom dia e fazer com que ele perdesse o ônibus e se atrasasse. Tudo se vira contra mim, em todas as situações eu serei a principal culpada e errada. Todas as mágoas e raivas são apontadas para mim, afinal é mais fácil ele livrar-se de todas as sensações ruins e repassá-las para mim. Eu posso ficar mal, ele não.
Eu não posso estar bem se ele não está bem. A minha felicidade quando ele está infeliz o machuca. É como se eu o traísse, se eu o abandonasse nas horas que ele mais precisava de mim. O meu sorriso não pode aparecer nem por alguns segundos se quer se a cara dele está fechada. Eu tenho que acompanhá-lo e, realmente, acompanho-o, pois ele consegue encontrar uma forma ou palavras de também me deixar triste junto com ele.
Ele gosta de companhia na sua tristeza, mas não se importa de me fazer a mesma companhia quando estou magoada. Não se importa de que eu o acompanhe na felicidade, afinal quando ele está bem, nada mais importa. Ele preocupa-se com si mesmo em primeiro lugar. E em segundo e terceiro lugar. Ele é a sua própria prioridade e ele também deve ser a minha prioridade. Eu o devo isso, afinal eu sou a culpada.
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