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Depois do fim

Tem dias em que a alma parece um corpo abandonado.
A gente respira, mas não vive.
Levanta, mas não sente.
É como se o coração ainda estivesse batendo só por teimosia, esperando algo que já não volta.

Eu sei como é morrer por dentro e continuar de pé.
É um silêncio que não faz barulho, mas pesa.
É acordar e lembrar que o mundo segue — mesmo quando a gente parou.
Tem uma hora que você percebe que ninguém vem te salvar.
Que o amor não vai ser remendo, que o tempo não vai apagar o que aconteceu.
E é ali que começa o nascimento mais difícil: o de si mesmo.

Porque vencer não é sorrir de novo, é respirar sem culpa.
É entender que não tem volta, mas ainda tem caminho.
É quando você para de pedir que o passado volte a ser inteiro e começa a reconstruir o que sobrou com as próprias mãos.
Às vezes, é com pedaços. Às vezes, com nada.

Mas foi ali que eu percebi: a independência das emoções não é frieza, é maturidade.
É quando você entende que sentir não precisa te afogar.
Que o amor pode ser leve, mesmo depois de ter doído.
Que a tristeza pode existir, sem te paralisar.
A liberdade não é ausência de dor, é não ser refém dela.

E aos poucos, o corpo aprende outro ritmo.
O coração bate sem medo de quebrar.
Você volta a rir, mas não do mesmo jeito — agora é riso de quem sobreviveu.
As lágrimas não te envergonham, te purificam.
O passado deixa de ser ferida e vira história.

Talvez a vitória seja isso:
olhar pro espelho e ver alguém que morreu um dia, mas renasceu no mesmo rosto.
Alguém que perdeu tudo, menos a capacidade de recomeçar.
Alguém que entendeu que a vida não pede permissão pra continuar — ela simplesmente continua.

E então você entende: a cura nunca foi esquecer.
Foi aprender a sentir sem se perder.
A viver sem precisar que o mundo te repare.
A seguir sem precisar que te entendam.

Porque existe vida depois do fim.
E força depois da dor.
E um amor novo, mais inteiro, depois da queda.

Foi assim que eu voltei.
Não o mesmo, mas de volta.
E pela primeira vez, livre.

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