O ciclo da migalha: quando o pouco vira vício
Tem gente que não tá num relacionamento — tá numa abstinência disfarçada.
Aceita o pouco, o quase, o mais ou menos. Se contenta com uma resposta fria, uma atenção pontual, um “eu te amo” dito quando convém. Porque qualquer migalha vinda de quem você idealizou… parece banquete.
Mas não é.
É vício. Vício de afeto. Vício do “quase lá”. Vício da fantasia que sua cabeça criou e que o outro não sustenta na prática.
Funciona assim: a pessoa some, ignora, te trata com indiferença. Aí um dia manda uma mensagem carinhosa, reaparece com um gesto que te faz lembrar de como era no começo. E você se agarra nisso. Porque esse momento ativa sua esperança, sua dopamina, seu apego.
Só que depois, ela volta a te ignorar. E o vazio volta junto. Você sente falta não da pessoa — mas da sensação que ela provocou naquele pequeno momento.
E aí, começa de novo. Espera. Anseia. Aceita o mínimo. Implora pelo retorno daquilo que nunca foi constante.
Esse é o ciclo da migalha.
Quem entra nele vai, aos poucos, se destruindo. Porque quanto mais você aceita o mínimo, mais distante fica do que realmente merece. Sua régua vai sendo rebaixada. Sua autoestima vai evaporando.
E o pior: você começa a confundir ansiedade com amor. Você acha que estar desesperado por alguém é prova de que ama muito. Não é.
É prova de que você se abandonou.
Relacionamento bom não dá nó na garganta. Não deixa você na dúvida se é recíproco. Não te faz implorar por atenção básica.
Você não foi feito pra viver de migalha. Foi feito pra viver afeto de verdade — inteiro, presente, constante.
Se for pouco, não serve. Se for metade, não vale.